Planeamento e Desenvolvimento Científico

Projeto de Ensino Clínico

A elaboração da Monografia de Conclusão de Licenciatura terá por base a exploração de diversas ''fontes de produção, síntese e implementação de evidências'' (ESEnfC, 2024, p. 19), através da análise de artigos científicos. O conhecimento das necessidades e interesses do serviço no qual irá decorrer o Ensino Clínico, permitirá a definição de um tema/ questão clínica relevante, bem como a tipologia da MCL. Assim, existem três tipologias disponíveis para a elaboração da MCL: a Revisão Critica da Literatura, constituída por quatro etapas essenciais – levantamento bibliográfico, leitura inspeção, leitura analítica e avaliação crítica , sendo que esta deve contribuir para a identificação de temas que necessitam de ser mais aprofundados e futuramente investigados; o Projeto de Melhoria da Qualidade dos Cuidados Baseada em Evidências, que deverá considerar o ''contexto, a facilitação da mudança e a avaliação do processo e resultados'' (Loureiro et al., 2024); e a Proposta de Investigação Empírica, que deverá conter na sua estrutura o enquadramento teórico do problema em estudo, a definição de conceitos centrais, o estado da arte, a formulação da questão de investigação, objetivos e hipóteses, e a descrição das etapas metodológicas do estudo – esta foi a tipologia selecionada (Loureiro et al., 2024).

A escolha desta tipologia deve-se ao facto de esta possibilitar a produção de conhecimento original alinhado com as necessidades específicas do contexto, contribuindo assim para a prática baseada na evidência. Do mesmo modo, promove o desenvolvimento de competências para a investigação, como a capacidade de análise e o pensamento crítico, sendo estas características fundamentais para a prática de Enfermagem.

O tema a abordar na Monografia de Conclusão de Licenciatura é a ''Literacia em Saúde em Mulheres Migrantes''. A escolha deste tema prende-se com a urgência de abordar as desigualdades em saúde que afetam as populações migrantes, neste caso, no períododa gravidez. Segundo Jawad et al. (2024), as mulheres migrantes enfrentam barreiras linguísticas, culturais e institucionais que limitam o acesso a cuidados de saúde de qualidade, levando a um atendimento muito confinado. Estas barreiras incluem a limitação na comunicação com os profissionais de saúde, o desconhecimento dos recursos disponíveis, e práticas culturais que nem sempre são bem recebidas ou tidas em conta pelos sistemas de saúde no país acolhedor (George et al., 2022; Zlotnick et al., 2023). Adicionalmente, muitas mulheres migrantes dependem das redes sociais e outras plataformas digitais para obter informações sobre saúde, onde nem sempre é possível garantir a confiabilidade das fontes e das informações encontradas (Jawad et al., 2024).

A gravidez é ''uma fase que traz modificações fisiológicas, corporais e emocionais culminando com o nascimento de uma ou mais crianças'' (Oliveira, 2019). Esta subdivide-se em três trimestres, com Idade Gestacional (IG) expressa em semanas e dias (1º trimestre até 11 semanas e 6 dias, 2º trimestre até 27 semanas e 6 dias e 3º trimestre das 28 semanas até o parto; Franco, 2016, pp. 56), sendo essencial a monitorização das alterações que ocorrem em cada uma destas fases, de modo a preservar a saúde da mãe e do bebé. Desta forma, o acompanhamento pré-natal tem um papel fundamental na prevenção de complicações e na promoção do bem-estar de ambos, no qual a Enfermagem é um elemento central neste período. Segundo Ferreira et al. (2021), o acompanhamento pré-natal é indispensável para a deteção precoce de patologias maternas e fetais, permitindo uma gestação saudável e a redução de riscos durante este processo. Assim, a OMS, como referido por Ferreira et al. (2021), recomenda pelo menos seis consultas pré-natais para assegurar uma vigilância adequada da gravidez.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) um migrante é considerado ''qualquer pessoa que se mude ou se desloque através de uma fronteira internacional ou dentro de um Estado longe do seu local habitual de residência, independentemente do estatuto legal da pessoa; do movimento ser voluntário ou involuntário; das causas do movimento; ou da duração da estadia'' (Organização das Nações Unidas, s.d.). De igual forma, é essencial compreender o conceito de Literacia em Saúde: a OMS define como o conjunto de ''competências cognitivas e sociais e a capacidade da pessoa para aceder, compreender e utilizar informação por forma a promover e a manter uma boa saúde'' (Ordem dos Enfermeiros, 2020).

A Literacia em Saúde na transição para a maternidade é essencial e, de certo modo, preditor dos desfechos para este processo. Esta é influenciada pelas condições socioeconómicas, culturais e migratórias, sendo essencial implementar estratégias que permitam intervir nas discrepâncias que possam existir devido às diversas circunstâncias destas utentes. No contexto de consultas externas, mais em concreto na UIP, gera-se uma oportunidade única para intervir diretamente junto destas mulheres, promovendo a sua autonomia nos cuidados.

Aprovada através da Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2015, a Agenda 2030 foi um marco histórico internacional de cooperação entre os países, para definir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que atuam segundo o conceito de sustentabilidade nos âmbitos econômico, social e ambiental, e dividem-se entre 17 ODS's e, por sua vez, integram 169 metas para um futuro sustentável sem deixar ninguém para trás, atuando nos 5P's: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias. Sendo Portugal um país signatário da Agenda 2030 e considerando os valores de equidade e inclusão expressos nos ODS's, para este trabalho, alguns ODS's estão intrinsecamente ligados com o tema e com a sua importância, incluindo o ODS 3 , o ODS 10 e o ODS 16 (Tabela 1).

No que diz respeito aos ODS's identificados, foi apresentado, em julho de 2022, no Fórum Político de Alto Nível pela Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, o Relatório Voluntário Nacional (2023) que trouxe um ponto de situação português nos avanços a nível nacional e regional dentro dos ODS's, tomando como régua as metas da ONU levantadas para cada um desses. Para este estudo, é importante ressaltar a única meta sem avanço (dentro do recorte) identificada: a mortalidade materna, que segundo dados do INE apresentou alta histórica em 2020. Desta maneira foi criada, em Julho de 2022, a Comissão Multidisciplinar de Acompanhamento da Mortalidade Materna, com o objetivo de investigar o aumento da mortalidade materna e dar resposta à necessidade identificada (RVN, 2023). 

Com base na reflexão realizada sobre este tema, e após ter tido a oportunidade de conhecer a UIP, foram identificadas as seguintes necessidades de aprendizagem: reforçar o conhecimento sobre intervenções educativas no contexto da saúde materna e infantil; desenvolver estratégias para avaliar o nível de literacia em saúde de forma sensível e eficaz; e aperfeiçoar competências de comunicação intercultural com mulheres migrantes durante a consulta.

Na tabela 2 estão esquematizados os objetivos específicos estabelecidos para o ECIO-II, orientando o percurso que pretendo realizar. Cada objetivo está associado a uma competência, apresentando atividades que contribuirão para a sua concretização, bem como métodos de avaliação que permitam avaliar e validar o seu sucesso.  

A estrutura e organização associadas à elaboração dos objetivos específicos, bem como da tabela e respetivos componentes, permitem evidenciar o compromisso em promover uma prática clínica de excelência, dedicada e extremamente organizada.

Por fim, a Proposta de Investigação Empírica que se pretende desenvolver no decorrer do ECIO-II, tem como objetivos ''Identificar o nível de literacia em saúde geral, digital e de navegação, de mulheres migrantes grávidas a viver em Portugal'' e ''Descrever os fatores facilitadores e barreiras à navegação dos serviços de saúde e capacidade de utilização de plataformas de saúde digitais de mulheres migrantes grávidas a viver em Portugal''. A elaboração do projeto permitirá reforçar as competências de investigação e profissionais, e o fortalecimento da prática baseada na evidência, alinhando-se assim com os objetivos estabelecidos para os ECIO I e II.

''Developing Antenatal Education Resources for Cald Women/ First Steps, Exploring what Women from Cald Backgrounds Want and Need'' 

Os autores reconhecem os riscos existentes para as mulheres CALD – Culturaly and Liguisticaly Diverse – no acesso aos cuidados pré-natal, sabendo que esta população apresenta taxas mais elevadas de complicações obstétricas em comparação com outras mulheres. Estas disparidades prendem-se com diversos fatores complexos, sendo a baixa literacia em saúde um dos mais preponderantes e indicados nestas comunidades. A baixa literacia em saúde contribui para uma menor participação e competência na utilização dos serviços de saúde, havendo uma menor capacidade para identificar os fatores de risco na gravidez e para compreender a informação disponível no âmbito da saúde da mulher grávida. Além disso, a educação pré-natal segue formatos mais genéricos que, muitas vezes, acabam por ser uma grande barreira para esta população não só a nível linguístico, como também cultural (Palani et al., 2025).

O projeto tem o objetivo final de desenvolver recursos de educação pré-natal mais adequados e acessíveis para mulheres de origem CALD a viver na Austrália, obtendo uma compreensão mais aprofundada das necessidades e barreiras que estas mulheres enfrentam no acesso aos serviços de saúde. Desta forma, utilizou-se uma metodologia qualitativa, desenvolvendo entrevistas semi-estruturadas em dois grupos focais, contando com uma amostra de 10 mulheres grávidas que se considerassem de origem CALD (Palani et al., 2025). As participantes provinham de oito países diferentes – Vietname, Zimbabué, Curdistão, Iraque, Libéria, Burundi, Irão e Turquia – e as suas línguas maternas incluíam o vietnamita, curdo sorani, shona, tshwa, kirundi, suaíli, árabe, farsi e dari, e todas elas falavam um pouco de inglês (Palani et al., 2025).

Para isto, foram tidos em conta os recursos de educação pré-natal disponíveis, e os dados obtidos através das entrevistas foram analisados de forma a identificar os aspetos mais relevantes. Assim, os três principais temas identificados foram: a literacia em saúde, navegação dos serviços de saúde, e identidade (Palani et al., 2025).

Relativamente ao primeiro, foi referida uma sobrecarga de informação, predominantemente em inglês, apresentada de forma apressada e que continha linguagem científica complexa e difícil de entender. As participantes referiram que para algumas mulheres que não falam ou não entendem inglês, e para outras que não sabem ler nem escrever na própria língua, esta questão levanta imensas barreiras (Palani et al., 2025). No que diz respeito à utilização dos serviços de saúde, as barreiras linguísticas e desconhecimento sobre os serviços disponíveis dificultaram o acesso aos cuidados. Foram reportados sentimentos de isolamento e solidão, necessitando de apoio social e de uma melhor orientação sobre os apoios disponíveis e o que esperar de cada consulta, sendo que 90% relataram não ter conhecimento neste âmbito. Por fim, no tema identidade reportaram a importância de incluir mais imagens de mulheres e famílias não caucasianas, e a distribuição de folhetos mais variados e que tenham consideração e respeito pelos valores de outras culturas – por exemplo, a massagem perineal pode ser inapropriada em determinados contextos e culturas (Palani et al., 2025).

Algumas das sugestões recolhidas pelos autores durante as entrevistas prenderam-se com a implementação de discussões em grupo, a disponibilização de informação em diferentes formatos – vídeos, áudios, etc. – a simplificação da linguagem, e a tradução dos materiais para as cinco línguas mais faladas pelas mulheres que recorrem aos cuidados pré-natal. Assim sendo, a conclusão do estudo aborda a necessidade de refletir acerca das diferentes necessidades, implementando cuidados culturalmente sensíveis, sendo necessário desenvolver mais investigações nesta matéria e envolver as mulheres CALD na criação de recursos educativos adaptados (Palani et al., 2025). 

''Health Literacy Interventions For Pregnant Women With Limited Language Proficiency In The Country They Live In/ A Systematic Review''

Revisão sistemática que teve como objetivo principal o de identificar e examinar as intervenções de literacia em saúde que foram desenvolvidas para mulheres cuja língua materna difere da língua predominantemente falada no país de residência. A baixa literacia em saúde pode apresentar riscos significativos ao longo da gravidez, podendo afetar gravemente a saúde materno-fetal. Do mesmo modo, indivíduos que não falam a língua do país no qual residem, apresentam níveis de literacia em saúde mais reduzidos. Conhecendo estes factos, os autores reforçam a necessidade de conceber e implementar intervenções personalizadas para mitigar as disparidades em saúde, tendo em conta as dificuldades acrescidas que este grupo de indivíduos enfrenta no que diz respeito aos serviços de saúde (Khan et al., 2024).

A pesquisa foi realizada na bases de dados Embase e Medline utilizando termos relacionados com literacia em saúde, gravidez e populações migrantes com comunicação limitada devido ao idioma. Aplicou-se uma restrição temporal, e foram aplicados os critérios de inclusão de modo a escolher os artigos que passariam para uma análise mais detalhada (Khan et al., 2024). Desta resultaram três artigos: o primeiro consistia na implementação de sessões de formação para parteiras em comunicação com mulheres migrantes de origem não-ocidental durante as consultas pré-natal, bem como no desenvolvimento de uma aplicação digital e elaboração de um folheto em seis línguas diferentes, tendo como objetivo reduzir as disparidades no acesso aos cuidados de saúde e melhorando a comunicação; o segundo, tinha como objetivo melhorar a compreensão da informação essencial sobre a gravidez, tendo-se desenvolvido recursos de informação pré-natal culturalmente apropriados e sensíveis; por fim, o último artigo relata a implementação de aulas desenvolvidas por educadores de saúde biculturais e de enfermeiros de saúde infantil e familiar na língua local, tendo como objetivo fornecer informação e apoio culturalmente sensível à população migrante (Khan et al., 2024).

Assim, a revisão permitiu concluir que ainda existe uma escassez notória de intervenções de literacia em saúde direcionadas para a população mulheres grávidas migrantes. Deste modo, os autores reforçam a necessidade de desenvolver e implementar intervenções personalizadas que considerem as necessidades, contextos e desafios enfrentados por este grupo, envolvendo ativamente as mulheres afetadas e as suas redes de apoio. Referem, por fim, que colmatar esta lacuna de literacia em saúde tem potencial para reduzir as disparidades no bem-estar materno fetal, promovendo uma saúde mais equitativa para esta população (Khan et al., 2024). 

''Health Literacy Responsiveness: A Cross-Sectional Study Among Pregnant Women In Denmark'' 

O estudo investigou a associação entre a proveniência e a capacidade para se envolver ativamente com os prestadores de cuidados de saúde, por parte das mulheres grávidas. Por outras palavras, o objetivo principal foi verificar se a etnia está relacionada com a experiência das mulheres grávidas na capacidade de se envolver nos seus cuidados de saúde durante a gravidez (Brorsen et al., 2022).

Os autores partem do princípio de que uma boa comunicação e interação entre utentes e profissionais de saúde são fundamentais para a alcançar cuidados de qualidade, no entanto as diferenças de língua e cultura podem apresentar-se como barreiras, atuando de forma negativa e provocando resultados de saúde indesejáveis para a mãe e para o feto (Brorsen et al., 2022).

A amostra contou com 1898 mulheres grávidas entre as 30 e as 37 semanas, tendo sido categorizadas por grupos étnicos: dinamarquesas étnicas, imigrantes europeias, imigrantes africanas, imigrantes asiáticas e descendentes de imigrantes (Brorsen et al., 2022). As mulheres imigrantes sírias foram estudadas como um subgrupo devido ao seu contexto migratório específico. A colheita de dados foi realizada através de uma entrevista telefónica em seis línguas diferentes – dinamarquês, árabe, turco, inglês, somali e urdu –, privilegiando o domínio ''Capacidade de se envolver ativamente com os prestadores de cuidados de saúde'' do Health Literacy Questionnaire (HLQ), que reflete as experiências da população alvo na interação com profissionais de saúde (Brorsen et al., 2022).

Os resultados obtidos revelam que as mulheres imigrantes reportam níveis médios significativamente mais baixos neste domínio em comparação com as mulheres dinamarquesas étnicas. As imigrantes asiáticas apresentaram a maior diferença, e o subgrupo de imigrantes sírias obteve pontuações médias mais baixas. Relativamente às imigrantes europeias foram o grupo com menor diferença em relação às dinamarquesas. A análise dos itens do HLQ permitiu compreender que as imigrantes consideram mais difícil assegurar que os profissionais de saúde compreendem corretamente os seus problemas, bem como discutir coisas com os mesmos até que estes compreendam, sugerindo desafios de comunicação e na compreensão entre as utentes e os profissionais de saúde (Brorsen et al., 2022).

De acordo com a interpretação dos autores relativamente aos resultados obtidos, as mulheres imigrantes grávidas experienciam uma menor capacidade de se envolverem ativamente nos seus cuidados de saúde, possivelmente pela menor capacidade de resposta dos serviços de saúde às necessidades demonstradas por estas mulheres. Assim, conclui-se que é necessária uma maior capacidade de resposta nesta situação, de forma a promover cuidados culturalmente sensíveis e mitigando as desigualdades em saúde (Brorsen et al., 2022).

Por fim, os autores defendem a implementação de iniciativas que promovam a reflexão cultural por parte dos profissionais de saúde e que avaliem as necessidades individuais de todas as mulheres (Brorsen et al., 2022). 

''Comunicação Digital: Estratégia Na Literacia Em Saúde'' 

O artigo explora a relevância da Literacia Digital no campo da saúde e o papel da comunicação digital na prevenção de doenças e promoção da saúde. A literacia em saúde distingue-se da alfabetização por ser uma capacidade de processamento de informação na vida quotidiana. A literacia digital é uma extensão lógica da alfabetização ao mundo digital, que implica a aptidão para compreender e usar informação digital, englobando o uso de tecnologias digitais tangíveis, como é o caso dos smartphones, e os recursos tecnológicos intangíveis, como é o caso da internet (Félix-Mateus & Dias, 2023).

Literacia Digital define-se como a capacidade necessária para alcançar a competência digital, sustentada por conhecimentos básicos em TIC, para recuperar, avaliar, armazenar, produzir, apresentar e trocar informação, comunicar e participar em redes colaborativas via Internet. A Comunicação Digital é a expressão comunicacional que deriva da internet ou que a usa como plataforma, baseada na interação e permitindo um processo comunicativo bidirecional com feedback, o que a distingue da comunicação tradicional (Félix-Mateus & Dias, 2023).

Os autores destacam a importância da comunicação digital na transformação do utente num participante ativo no processo de comunicação. Os profissionais de saúde são elementos essenciais na promoção da literacia em saúde, devendo comunicar de forma eficaz e simplificada, de modo a reduzir falhas e desinformação. Desta forma, a internet é um meio eficaz para a difusão de conteúdos de saúde, complementando outros meios através de aplicações como o My SNS. A comunicação digital contribui para o desenvolvimento da saúde, mudando mentalidades para focar na prevenção e bem-estar, e facilitando o papel ativo dos cidadãos nos seus cuidados de saúde. O smartphone é um meio com capacidade de conectividade e cibersegurança essencial para disseminar o conhecimento (Félix-Mateus & Dias, 2023).

A pandemia COVID-19 veio demonstrar a importância de arranjar alternativas de comunicação não presencial, como é o caso do teletrabalho, que depende fortemente dos meios digitais para otimizar os processos complexos e facilitar a comunicação. Desde 2018 que a Comissão Europeia tem promovido a ''Saúde em linha'' para melhorar a prestação dos serviços de saúde e o bem-estar dos cidadãos. Assim, eventos como a ''Conferência da Saúde 5G'', dinamizada pela NOS, permitiu compreender que o 5G é um meio essencial para simplificar e acelerar os cuidados, redesenhar operações e fomentar a colaboração entre profissionais de saúde (Félix-Mateus & Dias, 2023).

Assim sendo, os autores concluem que as tecnologias digitais trazem benefícios significativos prevenção de doenças e a promoção da saúde. A literacia em saúde apoiada pelas tecnologias permite o acesso facilitado à informação que, por sua vez, contribui para os objetivos acima referidos (Félix-Mateus & Dias, 2023). 

Artigos Científicos da Monografia com Resumo

''A Qualitative Study of the Utilization of Digital Resources in Pregnant Migrant Women's Maternity Care in Northern England'' 

O artigo apresenta uma estudo qualitativo, cuja população alvo foram mulheres migrantes chinesas grávidas a viver no Norte de Inglaterra. Este visa obter mais informação acerca do impacto dos recursos digitais em grupos específicos, como é o caso. Apesar do crescente reconhecimento do papel das tecnologias nos cuidados de saúde e do seu potencial para diminuir as desigualdades em saúde, é um tema que permanece pouco explorado (Gong & Bharj, 2022).

Este estudo apresentou algumas limitações, sendo as mais evidentes o pequeno tamanho da amostra – 30 mulheres, das quais 17 eram mulheres migrantes chinesas e 13 eram parteiras – e a baixa representação de mulheres inseridas numa condição socioeconómica menos favorável (Gong & Bharj, 2022).

A investigação permitiu compreender que todas as mulheres que participaram, relataram a utilização de diversas ferramentas digitais, como smartphones, aplicações e, em especial, o Google Tradutor, de acordo com o relato das Parteiras. Este último foi uma ferramenta essencial nas consultas pré-natal, apoiando-se nela para auxiliar na tradução e interpretação da informação fornecida pelos profissionais de saúde. Esta ajuda foi vista com muito bons olhos e conveniência devido à sua rapidez e eficácia, melhorando a comunicação e facilitando a inclusão dos familiares da grávida (Gong & Bharj, 2022).

A mudança nas instituições de saúde relativamente à disponibilização de informação de saúde em formato digital foi notória, sendo que os websites dos hospitais se tornaram nos principais repositórios de informação sobre a gravidez e o parto. No entanto, um desafio significativo neste âmbito foi o facto de a grande maioria desta informação apenas estar disponível em Inglês, sendo uma barreira considerável para as mulheres que não dominam este idioma. Esta mostrou-se ser uma oportunidade perdida para maximizar a acessibilidade da informação a mulheres que não falam inglês, de acordo com a perspetiva das Parteiras (Gong & Bharj, 2022).

Apesar da facilidade de acesso e utilização dos recursos digitais e do feedback positivo fornecido pelas mulheres, questiona-se a fiabilidade da informação disponível online e da sua tradução. Além disso, os cuidados de saúde pré-natal na China são extremamente diferentes das práticas implementadas em Inglaterra, não havendo consistência com as diretrizes do National Institute for Health and Care Excellence (NICE) do Reino Unido. Ora, esta inconsistência provocou expectativas irrealistas relativamente aos cuidados – procura por mais ecografias, por exemplo –, sendo que a falta destas práticas gerava uma grande insatisfação e ansiedade nestas utentes (Gong & Bharj, 2022).

O estudo concluiu que a disponibilização de informação nas plataformas digitais tem vindo a ser uma prática cada vez mais comum e benéfica, no entanto, sublinha a necessidade de desenvolver estes documentos em línguas diferentes, e a importância de direcionar ativamente as mulheres para estes recursos. Além disso, também apontam a pertinência de implementar formações em literacia digital tanto para as utentes como para os profissionais de saúde, capacitando-os a identificar as fontes de informação mais credíveis e fidedignas (Gong & Bharj, 2022). 

''Ehealth Literacy And Health Literacy Among Immigrants And Their Descendants Compared With Women Of Danish Origin - A Cross-Sectional Study Using A Multidimentional Approach Among Pregnant Women''

 O artigo cujo título é ''ehealth literacy and health literacy among immigrants and their descendants compared with women of Danish origin: a cross-sectional study using a multidimentional approach among pregnant women'', investiga a literacia em saúde digital – eHealth Literacy – e a literacia em saúde entre mulheres grávidas imigrantes (ocidentais e não-ocidentais), descendentes de mulheres imigrantes e mulheres de origem dinamarquesa. Tal como referido por Villadsen et al. (2020), nos países Europeus a proporção da nascimentos entre mulheres migrantes tem aumentado, representando entre 10% a 25% da natalidade. Estas mulheres enfrentam diversos riscos durante o período perinatal, incluído o aumento da taxa de mortalidade à nascença que, muitas vezes, se deve a barreiras de comunicação e dificuldades de acesso aos cuidados de saúde adequados. O estudo contou com a participação de 405 mulheres grávidas que frequentaram as consultas pré-natais em clínicas na Dinamarca, no ano de 2016. Os critérios de inclusão para o estudo foram: gravidez e ter a capacidade de responder ao questionário em Dinamarquês ou Inglês (Villadsen et al., 2020).

É também do entender destes autores que o desenvolvimento e crescimento da digitalização dos serviços de saúde poderá ampliar as desigualdades existentes, uma vez que exige competências para navegar nos sistemas digitais disponibilizados – por exemplo, eBoks. Assim, compreender o nível de literacia digital e saúde destas populações é essencial de modo a reduzir as disparidades e melhorar o atendimento à mulher grávida (Villadsen et al., 2020).

Para a avaliação, recorreu-se a dois instrumentos padronizados: o eHealth Literacy Questionnaire (eHLQ), que avaliou a literacia digital através de sete domínios – uso da tecnologia para compreender informações, compreensão dos conceitos e linguagem em saúde, capacidade para aderir aos serviços digitais, sentir-se seguro e sob controlo, motivação para aderir aos serviços digitais, acesso a serviços digitais eficazes, e adequação dos serviços às necessidades individuais; e o Health Literacy Quastionnaire (HLQ), que avaliou a capacidade de se envolver com os profissionais de saúde e a capacidade de utilizar os serviços de saúde (Villadsen et al., 2020).

Os resultados obtidos indicam que as mulheres imigrantes e as suas descendentes apresentaram níveis mais baixos de literacia digital e de saúde, em comparação com as mulheres dinamarquesas. As principais dificuldades apresentadas estavam na capacidade de uso da tecnologia e na interação com os serviços digitais, enquanto a motivação para usufruir desses serviços foi semelhante em todos os grupos. Quanto à interação com profissionais de saúde os imigrantes não-ocidentais demonstraram menor capacidade de comunicação, além de uma menor compreensão dos conceitos e da linguagem da área da saúde. Muitas imigrantes necessitaram da assistência de amigos no acesso às informações digitais e à tecnologia em geral (Villadsen et al., 2020).

As conclusões retiradas pelos autores apontam que as mulheres imigrantes e as mulheres descendentes de imigrantes enfrentam desafios significativos relacionados com a literacia digital e com a comunicação nos sistemas de saúde, o que pode contribuir para piores desfechos durante a gravidez (Villadsen et al., 2020). Estas dificuldades não estavam ligadas a falta de motivação ou falta de acesso às tecnologias, mas sim à falta de habilidades que permitissem satisfazer essas necessidades, bem como à dificuldade de comunicação eficaz com os profissionais de saúde. Para reduzir essas desigualdades, os autores sugerem que os serviços de saúde adotem estratégias adaptadas às necessidades destas mulheres, de forma a proporcionar um suporte adequado e uma acessibilidade e usufruto facilitado dos serviços de saúde por parte destas utentes (Villadsen et al., 2020). 

''Barriers To And Facilitators Of Digital Health Among Culturally And Linguistically Diverse Populations- Qualitative Systematic Review'' 

Trata-se de uma revisão sistemática da literatura para compreender as barreiras e fatores facilitadores na interação com as Tecnologias de Saúde Digital (TSD) na perspectiva das populações Culturalmente e Linguisticamente Diversas (CALD) – imigrantes, refugiados, povos indígenas, entre outros. O objetivo principal deste estudo, referido anteriormente, prende-se com o crescimento das tecnologias nos sistemas de saúde, sendo que a adesão e sucesso deste fator depende da capacidade dos utentes de navegar no mundo digital. A menor adesão pode dever-se à falha em satisfazer as necessidades culturais, linguísticas ou de literacia em saúde destas populações (Whitehead et al., 2023).

Os diversos focos identificados pelos autores foram agrupados em 7 temas abrangentes, sendo eles: uso de tecnologia, componentes de design, linguagem, cultura, saúde e medicina, fiabilidade, e interação com os outros. Começando pelo tema ''uso de tecnologia'', identificam como barreiras a baixa literacia digital, o medo das tecnologias, custos associados, e a dificuldade em encontrar informação credível (Whitehead et al., 2023). Quanto aos fatores facilitadores, destacou-se a familiaridade com os telemóveis, a educação em literacia digital e a redução de custos em viagens e outras despesas que podem ser prevenidas pela utilização correta das informações encontradas online. Passando para a componente ''design'', destaca-se o conteúdo repetitivo, pouco envolvente, com muita leitura, e o envolvimento do utilizador no design como barreiras. Já os fatores facilitadores foram a interatividade, o uso de gráficos, histórias culturalmente sensíveis, o acesso rápido e a conveniência (Whitehead et al., 2023).

Relativamente à ''linguagem'', a literacia limitada em inglês ou na língua materna e a utilização de terminologia médica complexa foram as barreiras mais preponderantes, sugerindo-se como fatores facilitadores a utilização de imagens, vídeos, linguagem simples, versões em áudio e na língua materna do indivíduo. A ''cultura'' teve um impacto significativo, sendo que a falta de representação cultural nos conteúdos, a não consideração das preocupações e normas culturais foram fatores indicados como barreiras. Estes poderão ser atenuados por uma representação sensível da cultura, com narradores da mesma cultura e conteúdos relevantes para a comunidade (Whitehead et al., 2023).

Passando para a ''saúde e medicina'', a percepção de um padrão de qualidade de cuidados mais baixo e a ausência de avaliação física foram identificadas como barreiras. Quanto à ''fiabilidade'', a privacidade e a segurança das informações pessoais, e a falta de confiança nas informações online bem como a sua atualidade e fiabilidade foram questões colocadas como barreiras, que podem ser atenuadas com a valorização do anonimato e melhoria da privacidade dos utentes. Por fim, na ''interação com outros'' as TSD foram consideradas impessoais, afetando a comunicação e a construção de relações com os profissionais de saúde. No entanto, o aumento do apoio social, a capacidade de aprender com outros e a construção de conexões sociais foram facilitadores (Whitehead et al., 2023).

Assim, os autores concluem que os fatores culturais afetam, em algum nível, todos os temas identificados. As perspectivas linguísticas e culturais devem ser consideradas no design das TSD, sendo isto alcançando da melhor forma através da inclusão das comunidade em todas as etapas do desenvolvimento. Esta abordagem pode tornar as TSD mais apropriadas e acessíveis a grupos que atualmente correm o risco de não obter todos os benefícios que o digital pode oferecer para a saúde (Whitehead et al., 2023). 

''Transição Digital E Transformação Organizacional Na Saúde/ Políticas Públicas, Desafios E Oportunidades'' 

A transição para o digital no âmbito da saúde tem sido uma transformação profunda na organização do setor, gerando novos desafios que dificultam a garantia de uma prestação de cuidados eficiente e de boa qualidade. A Organização Mundial de Saúde define Saúde Digital como a ''utilização de tecnologias de informação e comunicação digitais, móveis e sem fios para apoiar a consecução dos objetivos de saúde'' (Pimenta, 2024, p.6). Os seus objetivos principais são melhorar a acessibilidade e a qualidade dos cuidados, promover a eficiência operacional e garantir a cibersegurança e a confidencialidade dos dados (Pimenta, 2024).

O processo de digitalização iniciou na primeira metade do século XX, sendo que a criação da internet na década de 90 potenciou de forma exponencial este desenvolvimento tecnológico. Em 2010, com o aumento dos dados de saúde surgiu a saúde digital, que passou a ser a realidade (Pimenta, 2024). Esta transição foi acelerada pelo acontecimento da pandemia COVID-19. Este fenómeno que tem vindo a acontecer nas últimas décadas apresenta diversos benefícios, como é o caso da superação de limitações geográficas e a promoção de uma acompanhamento mais consistente, a troca de informações e integração dos cuidados, ganhos em saúde, aumento da qualidade de vida bem como da eficiência dos cuidados (Pimenta, 2024).

É referido que a transição digital se trata não só de um processo técnico, mas também organizacional e cultural. As tecnologias permitem a organização dos serviços de saúde, sendo o dever do governo incentivar ao desenvolvimento de tecnologias alinhadas com os objetivos do sistema de saúde, que permitam garantir a qualidade, equidade, eficiência e acessibilidade. A Estratégia Global para a Saúde Digital 20202050 promove a colaboração global e a implementação de estratégias nacionais, defendendo os sistemas de saúde centrados na pessoa (Pimenta, 2024).

Destaca-se como desafios a proteção de dados de saúde e a segurança de sistemas contra ameaças digitais, sendo que estes são pré-requisitos não negociáveis. Além disso, aponta-se o risco de a transição para o digital aumentar as desigualdades em saúde, uma vez que depende das habilidades técnicas e literacia digital, sendo que estas variam de grupo para grupo. Especificamente em Portugal, os desafios incluem a definição de processos, normas e diretrizes, a aproximação dos cuidados à população, a integração dos cuidados no SNS, a gestão eficiente dos recursos humanos e a garantia das infraestruturas tecnológicas (Pimenta, 2024).

No que diz respeito às oportunidades, a autora aponta a otimização dos resultados em saúde através de tecnologias como a monitorização remota, inteligência artificial, cuidados virtuais, entre outros. A digitalização em saúde pode potenciar a centralização dos cuidados no utente, a articulação de cuidados multidisciplinares, a literacia em saúde, a melhoria dos hábitos de saúde, a melhoria do acesso, a otimização de recursos, ou seja, de um modo geral espera-se que permita prevenir a doença e promover a saúde (Pimenta, 2024).

Em conclusão, a autora refere que a transição digital em saúde, que tem estado em constante evolução, terá um impacto significativo nos cuidados e nos Sistemas de Saúde. Salienta a pertinência de que estudos futuros avaliem o impacto da digitalização dos cuidados na experiência do utente, com enfoque nos desafios específicos da cibersegurança e ética na saúde digital (Pimenta, 2024). 

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