Florence Nightingale: A Senhora da Lantera

Fonte: Tira Racconta Una Storia, s.d.

Fudamentação Teórica

A fundamentação teórica pretende realçar as teorias de referência que servem de sustento aos cuidados prestados na Unidade de Intervenção Precoce na Relação Mãe/ Filho da Maternidade Bissaya Barreto. Assim, de forma a tornar este Portfólio Digital num documento coerente e completo, inclui-se uma breve fundamentação teórica, que baseou a minha prática e pensamento crítico durante este período. Além disso, uma vez que o tema da Monografia de Conclusão de Licenciatura é ''Literacia em Mulheres Migrantes Grávidas'', faz-se uma análise destas circunstâncias à luz de cada teoria. Segue-se, então: a Teoria das Transições, de Afaf Meleis; e o Modelo de Calgary de Avaliação Familiar, de Lorraine e Maureen.

Teoria das Transições, de Afaf Meleis

A transição pode ser definida como uma passagem entre dois períodos relativamente estáveis, que conduz a pessoa por mudanças, marcos importantes, sendo uma fase dinâmica (Costa, 2016). Afaf Meleis destacava que este processo de transição pode impactar significativamente a saúde, as relações e capacidades individuais da pessoa que se encontra nesta situação. Desta forma, torna-se fundamental que a pessoa se adapte às novas circunstâncias, ajustando os diversos fatores e aspetos que influenciam a sua saúde e bem-estar (Costa, 2016).

A transição é um processo singular, complexo e variável e pode ser classificada num dos quatro tipos seguintes: desenvolvimental, que se refere às mudanças naturais ao longo da vida, como é o caso da adolescência ou da menopausa; de saúde/doença, associada à passagem entre o estado de saúde e doença – diagnóstico de uma doença crónica, ou recuperação após uma cirurgia; situacional, quando envolve a mudança de papéis desempenhados pelo indivíduo, como é o caso da viuvez; e organizacional, referente a alterações no ambiente, sociedade, políticas, etc. – mudanças na estrutura e nas funções após aquisição do título de Enfermeiro Gestor (Costa, 2016).

As transições são influenciadas por diversos fatores facilitadores – boa rede de apoio – e dificultadores – estratégias de coping ineficazes –, que se contra balanceiam e ditam o resultado do processo de transição. Além disso, podem ocorrer várias transições em simultâneo, estejam elas interligadas ou não, ou então apenas uma num só período (Costa, 2016).

Desta forma, a intervenção de Enfermagem torna-se essencial de forma a garantir um processo de transição saudável. O Enfermeiro desempenha o papel de facilitar a adaptação e, sempre que possível, promover um resultado positivo. Assim, torna-se imprescindível a avaliação correta das condições em que a pessoa se insere, de forma que a intervenção seja o mais eficaz possível (Costa, 2016).

Analisando a situação das mulheres migrantes grávidas à luz da Teoria das Transições, é possível identificar diversos processos de transição. A mudança para um novo país classifica-se como transição situacional, implicando ajustes no papel social e familiar devido a diferenças culturais, religiosas, linguísticas e emocionais, e exige uma adaptação ao novo contexto. Da mesma forma, a gravidez pode ser considerada uma transição situacional, uma vez que se trata de um evento específico e que acontece num determinado período de tempo. Esta exige diversos ajustes físicos e emocionais durante esta fase. Por outro lado, o papel parental trata-se de uma transição desenvolvimental, uma vez que implica uma mudança ao longo do ciclo vital. Exige uma adaptação às novas responsabilidades e desafios inerentes à parentalidade.

Tal como referido anteriormente, o processo de transição é influenciado por diversos fatores, não sendo este caso uma exceção. Assim, alguns dos fatores de risco/ dificultadores nesta situação são as barreiras linguísticas, culturais e religiosas, o nível de literacia em saúde – no caso de este ser reduzido dificulta os comportamentos de saúde e acesso aos serviços de saúde –, e a adaptação ao novo país e ao seu sistema de saúde. Por outro lado, os fatores facilitadores que se identificam, e que poderão mitigar os danos causados pelos fatores de risco, são o suporte familiar e a disponibilidade de serviços de apoio à população migrante, que proporcionam uma boa orientação e acompanhamento nestas fases de adaptação.

Modelo de Calgary de Avaliação Familiar, de Lorraine e Maureen

Família é um grupo, uma ''unidade social ou todo o coletivo composto por pessoas ligadas através de consanguinidade; afinidade; relações emocionais ou legais; sendo a unidade ou o todo considerados como um sistema que é maior do que a soma das partes'' (CIPE, 2019, p. 63).

Em 1984, o Modelo de Calgary foi elaborado pelas enfermeiras norte-americanas Lorraine e Maureen, e este consiste em dois componentes específicos – o modelo de avaliação e o modelo de intervenção familiar. O primeiro é constituído por três categorias: a estrutural; a de desenvolvimento; e a funcional (Monteiro et al., 2016). Cada categoria divide-se em diversas subcategorias que poderão ser ou não alvo de avaliação na primeira consulta (Nascimento et al., 2023). O Modelo de Intervenção Familiar ''realiza a interseção dos domínios de funcionamento (cognitivo, afetivo e comportamental) com as intervenções familiares'' (Monteiro et al., 2016, p. 490).

O Modelo de Calgary pretende ''promover, incrementar ou sustentar o funcionamento da família quanto aos seus aspetos cognitivos, afetivos e comportamentais e ajudar a família a descobrir novas soluções [...], e tendo como meta reduzir ou aliviar o sofrimento'' (Nascimento et al., 2023, p. 3).

De forma a realizar uma avaliação completa da família são utilizados o Genograma, que consiste na realização de um diagrama que apresenta os membros da família, os seus papeis e relações, e deverá incluir situações importantes como é o caso do falecimento ou nascimento de um membro. Além disso, o Ecomapa é outro instrumento extremamente importante neste âmbito, que permite interpretar as ''relações existentes entre a família, as suas redes de apoio e os serviços utilizados'' (Rodrigues et al., 2023). Por outras palavras, este permite ter uma noção das conexões que se estabelecem entre os membros da família e o ambiente externo – recursos da comunidade, serviços de saúde, e como estes afetam a família (Rodrigues et al., 2023).

Para as mulheres migrantes grávidas, a adaptação às barreiras culturais e linguísticas e a capacidade de acesso aos cuidados de saúde pode ser uma etapa extremamente desafiadora. Assim, a aplicação do Modelo de Calgary nesta situação é extremamente importante, de forma a detetar precocemente os fatores de risco que possam influenciar o bem-estar materno-fetal – suporte familiar, acesso aos cuidados de saúde, discriminação, isolamento, entre outros. Desta forma, o Enfermeiro poderá planear os cuidados e direcionar as suas intervenções, respeitando e correspondendo às necessidades emocionais e culturais da pessoa, promovendo a inclusão social e a literacia em saúde, e garantindo o acesso aos cuidados de saúde. Esta abordagem prende-se com a necessidade de contribuir para a humanização dos cuidados de Enfermagem, alinhando-os com as necessidades específicas das mulheres migrantes grávidas.

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